Do poema de abertura da Mensagem de Fernando Pessoa – obra de 1934 que representa a «verdadeira imagem de Portugal, com a carne da História sublimada na auréola do mito», no dizer de David Mourão-Ferreira em nota à sétima edição –, citam-se na página anterior os primeiros e últimos versos. Neste tão conhecido poema, a geografia de Portugal surge reconfigurada como «rosto» da Europa aberto ao mar, imagem já proposta por Luís de Camões em Os Lusíadas (III, 20) e depois graficamente visualizada por Almada Negreiros, em 1943. Tal alegoria voltou a fazer sentido em 2021, aquando da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia que, num quadro cultural de tradição e modernidade, também foi comemorada por uma especial emissão filatélica. A partir da imagem do «rosto» da Europa, o presente livro procedeu a uma releitura das emissões filatélicas de 2021 adiante reunidas, repartiu-as por quatro capítulos – «Olhar o Futuro», «Olhar o Passado, «Voz da Terra», «Visão Global» – e, para iluminar cada uma delas, importou mais versos da Mensagem. Cumpre-se, mais uma vez, o rumo traçado pelos Correios de Portugal que, logo em 1983, colocaram a coleção Portugal em Selos «sob o signo da cultura». Por exemplo, a prosa queiroziana (2018), a crónica medieval (2019), a música renascentista (2020) e, agora, a poesia pessoana (2021), foram ultimamente eleitas como eixos estruturantes. Assim, os selos de cada ano, miniaturais e silenciosos guardadores de memórias, ganham espaço e luz, voz e vida, convertendo estes livros bilingues em insólitos guias de viagem à descoberta de Portugal. E talvez até venham a desafiar a curiosidade do leitor pela cultura portuguesa.
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